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Empreendedorismo feminino: como uma marca se diferencia atuando com propósito e moda sustentável

Foto: divulgação

O mês de novembro traz um tema que proporciona diversas discussões. Mulheres cada vez mais têm conquistado sua voz e seu espaço na sociedade, principalmente no empreendedorismo. Especificamente no dia 19 deste mês é comemorado o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino e, como um único dia não seria suficiente, produzimos uma série com 30 entrevistas de mulheres fantásticas para falar sobre o tema. 

A convidada de hoje é Ana Letícia Knuth, arquiteta e urbanista, e também, à frente da marca de roupas BE CULT. Confira abaixo:

Qual foi o start do negócio?

A BE CULT art & clothes surgiu no meio do ano de 2015, quando ingressei no mestrado na UFSC e precisei ir residir em Florianópolis. Sem ter como trabalhar como arquiteta aqui em Gaspar, onde nasci, precisei pensar em uma nova forma de ter renda sem depender da arquitetura. Conversei com os meus pais para me ajudarem e eles me falaram: “a gente trabalha há mais de 20 anos com confecção, é isso que a gente sabe fazer”. Meus pais já tiveram uma empresa de confecção com mais de 60 funcionários e tem bastante experiência na área. No entanto, a empresa trabalhava de forma “tradicional” e não era dessa forma que eu gostaria de trabalhar. Certo dia, fui até alguns fornecedores que vendiam saldos de malhas e tecidos e vi muito potencial naquelas sobras de grandes indústrias têxteis. A oportunidade de criar peças exclusivas e sustentáveis reaproveitando esses saldos poderia ser o diferencial para a futura marca. E assim é até hoje! Adaptamos o processo tradicional de produção que os meus pais estavam acostumados para embarcar em um processo muito mais sustentável e artesanal.  Somos uma marca autoral de roupas femininas e masculinas que propõe uma moda sustentável, exclusiva e criativa. Nossa empresa é pequena e familiar, nossa produção é em pequena escala. Hoje trabalham diretamente com a BE CULT eu e meus pais, além dos parceiros terceirizados que fazem a parte da costura (trabalham com a gente três costureiras, que já são aposentadas e que costuram sozinhas em suas casas) e também a parte de estamparia (uma pequena estamparia familiar faz essa parte do serviço para nós). 

Por que apostaram nesse segmento? Quais os diferenciais da marca?

Apostamos nesse segmento pelos meus pais já terem experiência na área e também por vislumbrar uma oportunidade de produzir peças exclusivas, sustentáveis e diferenciadas a partir das malhas e tecidos descartados pelas grandes empresas têxteis.

Num balanço geral, como são as vendas da Be.Cult?

Assim como a criação da marca é um processo e uma adaptação, a forma como as peças da BE CULT é comercializada também é. Quando a marca começou, as vendas eram realizadas para amigos e conhecidos. Logo passamos a participar de feiras, principalmente de rua, e foi ali que a BE CULT se encontrou, cresceu e se aprimorou. Falamos que a BE CULT cresceu na mesma proporção que as feirinhas de rua da região também cresceram. Entendemos que o nosso público estava muito conectado com esse tipo de evento. Além das feirinhas, começamos a dispor nossos produtos em lojas colaborativas, espaços onde pequenas marcas como a nossa compartilham do mesmo espaço e conseguem comercializar seus produtos em um ponto fixo, sem ter o custo de manter uma loja física sozinha. Com a pandemia, tivemos que nos adaptar, assim como todos, e apostamos nas vendas on-line via rede sociais. Hoje, ainda não voltamos a participar das feirinhas de rua, mas esperamos logo poder voltar. Nossos canais de venda no momento são as três lojas colaborativas que participamos, em Blumenau, Balneário Camboriú e Florianópolis, além da loja junto à fábrica que mantemos e as vendas on-line.

Qual o perfil de público da Be.Cult? 

O público da BE CULT é essencialmente feminino, de 25 a 55 anos. Esse público preza muito pelo conforto e pela praticidade, além da beleza das peças, é claro. Têm uma preocupação com o meio ambiente e gostam muito da proposta de sustentabilidade da marca.

Quais são os desafios de empreender como mulher? E o que você indica para quem quer começar?

Acredito que um dos maiores desafios é o fato de as pessoas não estarem acostumadas com mulheres à frente de empresas ou até mesmo de seus próprios negócios. Pelo fato de não ser comum mulheres em cargos de liderança, as mulheres ainda são descredibilizadas nesse sentido. No nosso caso, pelo fato de trabalharmos com moda, esse estranhamento é um pouco menor devido às pessoas associarem trabalho de costura com um trabalho de gênero feminino. O empreendedorismo feminino só tem a acrescentar à sociedade, por desempenhar um papel fundamental para reduzir a desigualdade de gênero, além de favorecer a diversidade aos negócios, devido às diferentes perspectivas identificadas pelas empreendedoras. O que indicamos para quem quer começar, primeiramente, é coragem e determinação. Começar um projeto novo nunca é fácil, exige sair da zona de conforto e enfrentar novos desafios. Em segundo, indicamos que você se informe, estude, entenda e estruture o seu novo negócio. Nada melhor do que começar algo novo tendo como base informações, nichos de mercado, outras marcas como referência e claro, apoio de pessoas com o conhecimento certo para fazer o seu novo negócio funcionar.

Entre expectativa e realidade, o que você achava que era empreender e o que de fato é?

A expectativa de empreender é aquela que todo mundo tem e que de maneira geral pode se descrever como “ter liberdade e autonomia”: fazer seu próprio horário de trabalho, ter mais tempo livre, não responder/atender expectativas de nenhum chefe, colocar em prática o propósito e aquilo que você acredita para sua marca, ter sustentabilidade financeira logo que inicia… A realidade não é bem assim: trabalhar muito para fazer o negócio acontecer, inclusive a noite e nos finais de semana, mesmo não tendo nenhum “chefe” sempre temos à quem responder: nossos clientes, colocar em prática o propósito e aquilo que você acredita para a sua marca em um mundo capitalista não é tão simples quanto a gente imagina, e a parte da sustentabilidade financeira, então, exige muito trabalho, muito esforço e muita dedicação.

Quais lições de empreender no seu segmento?

Eu acho que a maior lição que aprendemos empreendendo com a BE CULT é que precisamos ouvir aqueles que nos apoiam e nos sustentam: nossos clientes. A melhor maneira de prosperar no segmento da moda (visto que existe uma infinidade de empresas que trabalham nesse setor) é mostrar o seu diferencial ao seu cliente, o seu propósito, e também ouvir aquilo que o cliente deseja e se importa e colocar isso em prática dentro da marca. Não somos uma marca autoral como as grandes empresas da moda e não queremos vender o mesmo tipo de produto, muito menos da mesma forma. O nosso cliente compra da gente por se identificar com a marca, gostar do design e da qualidade das peças, mas também por entender e conhecer o nosso processo de produção, por saber quem está produzindo as suas peças. Vendemos muito mais que peças de roupas, vendemos uma nova forma de produção e de consumo, mais sustentável, criativo e humano.

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