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Educação e desenvolvimento econômico: uma jornada rumo a geração do futuro

Foto: divulgação.

Por Marcelo Fett, secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação de São José.

O Brasil vive um dos momentos mais difíceis de sua história. Não só em função da instabilidade política e da polarização dos extremos ideológicos, mas principalmente pelos efeitos econômicos da pandemia do coronavírus.

Somente entre janeiro de 2019 e junho de 2021 pelo menos 2 milhões de famílias entraram para o grupo da extrema pobreza que hoje soma 41,1 milhões de brasileiros. O número de desempregados também não para de crescer e atingiu a lamentável marca de 15 milhões de pessoas. 

Se por um lado temos todo esse contingente sem emprego, por outro temos ao menos 50 mil vagas em aberto só no setor de tecnologia e a estimativa é de que nos próximos dois anos vamos precisar de aproximadamente 500 mil profissionais nesta área. 

Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), em virtude da aceleração da digitalização da economia provocada pela pandemia e da dificuldade em formar profissionais com as competências necessárias, haverá um déficit de aproximadamente 300 mil profissionais até 2024. 

Em Santa Catarina, só no setor de tecnologia, o déficit atualmente é de ao menos cinco mil profissionais. Ou seja, temos vagas, mas não temos pessoas com as competências necessárias para preencher essas vagas.

Infelizmente, o poder público no país parece não estar sensível a este gargalo do desenvolvimento econômico, deixando de se preocupar com a formação de nossas crianças, jovens e adultos para competirem nessa nova economia em que as tecnologias se tornam obsoletas em média a cada 18 meses. 

Aliás, com a aceleração deste processo o desafio ganha uma dimensão ainda maior.  

A formação de habilidades técnicas e comportamentais (liderança, empatia, comunicação interpessoal, resolução de conflitos, atitude, trabalho em equipe etc.) que deveria acontecer desde a educação básica e fundamental parece não fazer parte da pauta de nossas lideranças políticas.  

E assim, afastamos ainda mais nossos jovens das oportunidades futuras do mercado de trabalho ou mesmo para que se tornem empreendedores motivados pelo senso de oportunidade e não por necessidade.

E mais: segundo pesquisa encomendada pela DELL, 85% das profissões de 2030 ainda não existem. Logo, se não sabemos quais serão as oportunidades existentes daqui alguns anos, é fundamental nos preocuparmos desde a primeira infância com o desenvolvimento de competências e habilidades técnicas e comportamentais, que garantam oportunidade para o profissional ou empreendedor do futuro. 

O professor James Heckman, vencedor do Nobel de Economia no ano 2000 e responsável pela criação da Equação Heckman, que trabalha em torno da aplicação de recursos em educação da primeira infância (de 0-6 anos), aponta que o investimento a partir desta faixa etária é fundamental para o sucesso econômico de um país. Segundo Heckman, a taxa de retorno é de US$ 7 para cada US$ 1 investido na formação de inteligência e habilidades sociais. 

Na contramão disso, não conseguimos sequer garantir um nível de aprendizagem para os que conseguem frequentar a sala de aula. Entre aqueles que concluem o ensino médio, estima-se que apenas 37% têm aprendizagem adequada em português e 10% em matemática. Isso atesta que não estamos garantindo aos nossos jovens o que talvez seja a grande função social do Estado: o acesso as oportunidades de emprego e renda dignos.

Para tornar o horizonte ainda mais preocupante, pesquisa da FGV realizada durante a pandemia, aponta que o percentual de jovens entre 15 a 29 anos desocupados (aqueles que não estudam e não trabalham) chegou a 56% da população. Estamos diante de um desafio extraordinário, não somente de garantir que esses jovens e adultos possam estar na sala de aula, mas também que queiram estar lá e que o período em que estejam seja produtivo para o seu futuro.

A falta de pessoas com as competências necessárias para a nova economia tornou-se, portanto, um dos grandes entraves ao desenvolvimento econômico do país. Em Santa Catarina, um dos Estados cuja pauta econômica tem mais alto valor agregado, essa iminência de colapso é uma ameaça ainda maior. 

A educação não é apenas um passaporte para o aumento da eficiência e produtividade – problema grave do Brasil nos últimos 20 anos – motor do desenvolvimento econômico de uma nação – mas também para a redução de gastos com saúde e da criminalidade. 

É neste contexto que surgiu o Movimento Geração do Futuro que tem por propósito mudar o futuro de uma geração por meio da educação a partir do município de São José. 

A iniciativa tem como foco o desenvolvimento de competências para uma nova economia, cujas mudanças foram aceleradas por conta da pandemia. A ação, pioneira em Santa Catarina e até mesmo no país, atenderá turmas desde o primeiro ano do ensino fundamental, em contraturno escolar, até profissionais que desejam dar uma nova guinada em suas carreiras. A perspectiva é de que mais de 1.000 alunos sejam atendidos no primeiro ano e mais de 5.000 alunos até 2024.

Na estruturação do movimento, fizemos um recorte da sociedade a partir da etapa escolar e profissional, agrupando jovens e adultos em quatro grandes grupos: Despertar (alunos da educação fundamental), Formar (estudantes do ensino médio), Aperfeiçoar (maiores de 18 anos já atuando profissionalmente) e Incluir (profissionais que queiram pivotar suas carreiras e professores da rede pública de ensino).

Planejado com fases curtas e dinâmicas de desenvolvimento e flexibilidade para lidar com as mudanças sem perder o foco da sua missão, o Geração do Futuro surgiu com a ideia de criar um movimento que possa inspirar outras regiões e incorporar novos parceiros e novas competências, focado sempre na redução das desigualdades.

Firmamos parceria com entidades com experiência, idoneidade e relevantes serviços prestados para sociedade tais como SENAI, SESI, Junior Achievement e Associação Catarinense das Empresas de Tecnologia – ACATE.

Além disso, nas etapas do “Formar” e “Aperfeiçoar”, introduzimos a figura da “empresa madrinha” como mais um parceiro do programa.

Durante o “Despertar”, os alunos do Ensino Fundamental I e II recebem no contraturno escolar (garantindo ao menos em parte o tão sonhado ensino integral) e fora do ambiente escolar, disciplinas como lógica, idiomas, robótica, programação, games, comunicação e mídias, empreendedorismo, desenvolvimento de sistemas, internet das coisas e projeto de vida e carreira, totalizando uma carga horária de até 210h anuais para cada ano letivo. 

O grupo “Formar” foca nos estudantes do ensino médio, que terão sua formação direcionada para Cursos Técnicos Desenvolvimento de Sistemas e IoT. Assim, ao concluir o ensino médio, o estudante estará concomitantemente, concluindo sua formação em curso técnico, pronto para iniciar sua carreira no setor de tecnologia. Nesse momento também entram em cena as empresas madrinhas, a partir da customização de programas de “Jovem Aprendiz” direcionados para um melhor desempenho e aprendizagem do aluno contratado. 

Já a partir da etapa “Aperfeiçoar”, as empresas madrinhas informam as competências (hard e soft skills) e o framework próprio que serão trabalhadas pelos parceiros do movimento e, ao final desta qualificação, o profissional júnior que atinja o nível desejado completa sua formação in-house na própria companhia. Mesmo aqueles que não são selecionados pela empresa madrinha, recebem um certificado de programador de sistemas de informação.

Finalmente, a etapa “Incluir” atende um grupo de profissionais que busca aprimorar ou requalificar suas habilidades e competências. Essa é a base de transformação do Movimento Geração do Futuro. 

Estamos convictos de que, para garantirmos um novo, duradouro e sustentável ciclo de desenvolvimento, com aumento da produtividade e da competitividade, a redução das desigualdades, o aumento da renda média, a melhoria do ambiente de negócios e a redução da mortalidade de nossos empreendimentos, é fundamental apostar na educação. 

E esses investimentos devem iniciar desde cedo, não só em nome da efetividade e sustentabilidade de uma política pública de desenvolvimento alicerçada na educação, mas para que possamos garantir oportunidades para essa nova geração.  

Foi alinhado com essas crenças que criamos o Movimento Geração do Futuro. Com o desejo sincero de sonhar e construir um futuro para toda uma geração. As grandes mudanças da sociedade, são feitas por pessoas e a educação é a única forma de mudar as pessoas. 

Por fim, nada mais oportuno e atual do que uma das reflexões de Maximiliem Robespierre, defensor do sufrágio universal, da igualdade de direitos, da abolição da escravatura e uma das personalidades mais importantes da Revolução Francesa: “o segredo da liberdade está em educar o povo, enquanto o segredo da tirania está em mantê-lo ignorante”.

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