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Novos trilhos para a agroindústria

Foto: divulgação

Por Henry Uliano Quaresma, dirigente e consultor empresarial.

O fechamento de um frigorífico em Santa Catarina pode gerar um impacto maior do que o de outros empreendimentos convencionais. A interrupção de uma complexa e bem estruturada cadeia produtiva, que alcança boa parte da população da região Oeste catarinense, provocaria um efeito cascata na economia estadual, com desdobramentos tanto no mercado interno quanto nas relações comerciais com outros países. Isso porque o agronegócio protagoniza 70% das exportações catarinenses, tendo alcançado em 2020 o faturamento de US$ 5,7 bilhões, mantendo aquecidos os negócios internacionais catarinenses em plena pandemia.

A atividade agroindustrial de Santa Catarina entrelaça-se de modo intrínseco com a força propulsora do cooperativismo e com o Oeste catarinense, principal localização das unidades de produção. Conforme dados da Organização das Cooperativas de Santa Catarina, as 46 cooperativas agropecuárias, que reúnem 73.500 cooperados, faturaram R$ 34,4 bilhões em 2020. Um modelo de produção que funciona de forma integrada e inclusiva, sendo que 76% dos criadores de frangos são propriedades da agricultura familiar, assim como 80% dos produtores de suínos e dos fornecedores de leite para as agroindústrias. Famílias que vivem do campo e que recebem apoio das próprias indústrias para que a sua entrega seja adequada ao processo.

O setor desponta nacionalmente com a primeira posição em carne suína, com participação de 27,15% da produção brasileira, e segunda posição em carne de frango, com 14,50% do ranking nacional, conforme dados de 2020 da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Na exportação, ocorreram conquistas recentes de relevância, como a autorização para exportar ao mercado chinês, japonês, coreano e outros.

Apesar do câmbio estar favorável para a exportação, os custos do principal insumo para alimentar o importante setor de carnes – o milho – são um pesadelo sem fim para a agroindústria. Santa Catarina produz em torno de 1,7 milhões de toneladas por ano, mas precisa de 7 milhões de toneladas por ano para suprir a sua demanda. E o preço desse importante insumo acaba tendo influências diversas, sendo a mais impactante o alto custo logístico. Apesar de algumas opções de importação, a principal produtora e fornecedora de milho é a região Centro Oeste brasileira, sendo o milho transportado para Santa Catarina por via rodoviária, gerando dependência desse modal de transporte.
Dirigentes empresariais das agroindústrias defendem a construção de ferrovias como fundamental para garantir a competitividade do setor de Santa Catarina, caso contrário, corre-se o risco de realocação de empresas para onde o custo do milho se torne mais viável. Nesta linha de raciocínio, o setor de carnes de Santa Catarina necessita de uma solução para competitividade estratégica no longo prazo, pois o seu resultado econômico é distribuído e irrigado para todas as cidades do Oeste pelo sistema de integração com os produtores rurais.

Ações de curto prazo na regulação de preços, subsídios, alternativas e fornecimento de insumos certamente ajudam, mas estão longe de resolver a questão da logística. Cabe agora uma força-tarefa de segmentos da sociedade e do governo com foco em alternativas de ações reais, que devem ser encaradas como medidas urgentes e protetivas ao setor que se destaca como um dos mais importantes da economia catarinense.

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