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2020: o ano que abriu caminho para o venture capital

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Foto: artinspiring/AdobeStock

Essa foi definitivamente a virada de ano mais impressionante que já vivemos. 2020 se mostrou um ano desafiador em vários aspectos. Especificamente no mercado financeiro, o ano que acabamos de viver foi dos anos mais difíceis vividos na história atual e comparável à experiência de 1929 quando a bolsa despencou com a crise daquela época.

Ainda assim, muitas barreiras foram quebradas, movimentos impressionantes foram impulsionados e o mercado descobriu que é chegada a hora de amadurecer e, porque não, correr mais riscos.

Atingimos a marca dos 2% para a taxa Selic, nível este nunca visto desde o início da série histórica. Esse movimento chacoalhou as decisões do mercado, mesmo que definitivamente não seja um nível sustentável no longo prazo. Não surfamos essa onda por que o país vai “muito bem obrigado”. Pelo contrário, antes da crise essa tendência de queda vinha impulsionada pelo forte risco fiscal, mas agora, dado a retomada da atividade econômica, os níveis de inflação foram adicionados à equação e para este ano o consenso encerrou o ano no mesmo patamar.

Mesmo com este ajuste para cima que deve sofrer a taxa Selic ao longo deste ano, ainda assim estamos diante de níveis baixos para aqueles que o brasileiro estava acostumado e isso redireciona todo o posicionamento na tomada de decisão quando o assunto é investir.

A maioria dos investimentos do país acompanham de perto a Selic, taxa básica de juros da economia, com isso, os investimentos em renda fixa, como a poupança, CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e alguns títulos do Tesouro Direto passaram a render abaixo da inflação, o que na prática, significa que o investidor está perdendo o poder de compra do seu capital.

Este tipo de cenário impacta diretamente também os fundos de pensão, que hoje concentram grande parte dos seus recursos em renda fixa. Para um mercado que possui quase R$ 1 trilhão sob gestão, parece claro que novos movimentos de diversificação deverão ser adicionados à estratégia desses players para que alcancem suas metas atuariais, dado que ela define o quão rentáveis os recursos financeiros dos planos precisam ser para pagar integralmente os benefícios contratados na adesão.

Outro ponto interessante da nossa análise é que em setembro do ano passado, o número de CPFs operando na bolsa brasileira alcançou a marca histórica dos 3 milhões de pessoas físicas, segundo dados da B3.

Com isso, houve um aumento de 82,4% ou 1,3 milhão a mais de CPFs cadastrados desde o início do ano passado. Isso pode muito bem ser explicado também pelo ajuste histórico da taxa de juros e por investidores a procura de maior rentabilidade. O investidor já não consegue ver seus investimentos performar tão bem como no passado, sem correr um pouco mais de risco.

Diante disso chegamos onde as opções começam a ficar mais interessantes. Ainda que não tenhamos a maturidade de mercados como o europeu ou americano no que se refere à tomar risco, estamos experimentando a possibilidade de analisar e colocar diante dos investidores opções de investimentos que não tinham nenhuma ou apenas pouca representatividade na diversificação do portfólio destes investidores.

Mesmo a B3 tem se posicionado de forma a oferecer novas opções e maior liquidez ao mercado. Isso se demonstra com a criação em setembro passado do Índice S&P/B3 Brasil ESG como mais uma opção para compor portfólios e a sugestão de investir em empresas que apresentam alto nível de sustentabilidade.

Outro movimento fomentado pela bolsa brasileira foi a liberação definitiva do mercado de BDRs para investidores em geral, deixando de ser restrito apenas para investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão investidos) ou para profissionais qualificados.

Prova disso é que após uma semana de operação com maior acesso, houve, em média, um aumento de 59% na liquidez das BDRs, em comparação à média deste quesito nos 30 dias anteriores à liberação.

Preocupa, no entanto, o total entendimento do investidor em lidar com este tipo de ativo, que não significa apenas comprar parte de empresas internacionais, mas também lidar com variações de dólar e aspectos de mercado lá fora. Por outro lado, comprova que as regras da CVM associadas aos ajustes da B3 resolveram o principal gargalo deste mercado que vinha a ser a liquidez.

Outro mercado que surfou a crista da onda em 2020 foi dos investimentos de risco. Nome ingrato esse dado à tradução, mas que refere-se ao mercado de venture capital. Enquadra-se sim dentro da categoria de maior risco, mas que pode representar sim uma maior possibilidade de ganho quando avaliada com critério, bons gestores e pertinente a estratégia de investimento de cada indivíduo.

De fato, os investimentos nessa modalidade superaram em novembro passado, pela primeira vez na história, o volume direcionado para empresas pelos fundos de private equity.

Segundo ABVCap em levantamento em conjunto com a KPMG, os investimentos em venture capital nos primeiros seis meses do ano passado, foram superiores em R$ 1,2 bilhões, somando R$ 5,7 bilhões em venture capital contra R$ 4,5 bilhões em private equity.

Isso evidencia um maior apetite do investidor por diversificação mas também comprova o amadurecimento do ecossistema de startups do Brasil. As startups brasileiras receberam US$ 210 milhões em aportes de fundos de venture capital somente em novembro do último ano e, este movimento deve se intensificar e consolidar neste ano, que tem as ferramentas e prerrogativas para ser sim um ano de recuperação.

É provável que índices como taxas de juros, inflação e mesmo a cotação do dólar, se estabilize e alcancem melhores patamares, ao passo que a economia traciona, segundo consenso, mas caminhamos para intensificar a busca por novas alternativas de investimento, a fim de driblar o cenário que definitivamente não deve se alterar tão cedo: taxa Selic baixa.

A crise causada pela pandemia e o isolamento nos privaram de muitas coisas em 2020, por outro lado, tendo a acreditar que permitiu ao investidor e ao mercado ter tempo. Tempo para reavaliar estratégias, tempo para aprender sobre novos mercados e ativos e tempo para considerar arriscar-se mais.

Os ativos de risco devem ser a próxima onda para o direcionamento de recursos e assim como o investidor brasileiro já começa a perceber isto, para os investidores internacionais, que também movimentam grandes somas e tendem a ser mais maduros do que nós, percebem que países como o Brasil precisam muito mais desse tipo de negócio num cenário de crise.

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Investidora com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro e head de relações com investidores da Invisto

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